16 de dez. de 2013

chatting.

eu aprendi que parto normal REALMENTE não é pra todo mundo.
parto te vira do avesso, psicologicamente. o físico é o de menos. as pessoas se prendem à dor, mas a dor do parto é a última das coisas que você deve se preocupar. é suportável, teu corpo jamais te daria algo que você não poderia lidar. ele é inteligente. milhões de anos de evolução ensinaram isso pra ele. uma rápida pesquisa ou uma conversa com uma boa doula e um olhar mais "pragmático" e você entende isso.

o lance é mais embaixo. o parto acontece mesmo dentro da cabeça.
a mulher contemporânea, classe-média, independente, tem muuuuito esqueleto no armário. muito trauma inconsciente, muitas necessidades, aflições, carências. e ela se nega a olhar pra tudo isso. ou porque não tem tempo, ou porque não quer, ou os dois. somos muito cobradas e menosprezadas ao mesmo tempo.
num parto, tudo isso é jogado no seu colo.
parir não é somente dor e sofrimento físico, o emocional é infinitamente mais violento.
por isso que tem mulher que tem um parto lindo, rápido, maravilhoso, e outras tem aquele parto difícil, demorado, sofrido. tudo isso depende da bagunça dentro de si.

hoje, meses depois, eu fui entender porque o meu demorou tanto. eu não escrevi tudo que realmente aconteceu ou sentia no relato. tem coisa que eu só guardo pra mim. se você se recorda, eu fiquei com 7cm de dilatação e bebê alto por horas seguidas, e a coisa só foi se desenrolar quando eu fui pro chuveiro e chorei.
eu achei, durante a gravidez inteira, que eu teria que resolver coisas sobre minha cesárea e a criação da luana pra poder parir tranquila.
mas eu estava errada.
eu sou muito bem resolvida quanto à cesárea. meu problema era minha relação com a minha família. eu engoli muito choro na frente deles, a minha busca pelo parto natural humanizado era TÃO solitária e TÃO angustiante que eu pensei em desistir várias vezes. e ás vezes eu queria chorar as pitangas, ou compartilhar alguma coisa com alguém além do moisa. mas eu não tive nada disso.
minha mãe é terminantemente contra parto normal, nem minha experiência mudou a opinião dela.

e eu percebi isso, que minha "trava" era outra, porque foi depois da minha mãe entrar no quarto, me fazer massagem e me abraçar, que a coisa fluiu. eu fiquei mais de 4 horas sem progresso algum. quando minha mãe saiu do quarto, deu 20min e o autran nasceu.
eu vi que não estava abandonada como parecia. porque era justamente isso que eu sentia: abandono.
abandono por parte dos meus pais.

e te prepara, que depois do parto você vai se sentir capaz de QUALQUER COISA. é realmente um rito de passagem. toda mulher deveria passar por isso, sério. nossos conceitos, crenças, concepções, tudo muda.
a gente cria uma coragem que vem lá do âmago. fica bem animalesca mesmo, heh.
eu achei que a maternidade tinha me deixado mais forte, mas foi depois de toda essa experiência que eu vi a força que eu tenho, a força que meu corpo tem. que eu e meu corpo somos capazes de geral, parir e nutrir, naturalmente.
isso NINGUÉM vai tirar de mim. nunca mais.

28 de nov. de 2013

os últimos meses, de acordo com a câmera do meu celular.

de repente, milhares de fotos. algumas datando meses atrás. tive que dividir em dois posts.









sobre a qualidade ruim das imagens, falarei na parte 2.

18 de nov. de 2013

bit & pieces III.

» hoje passei o domingo inteiro finalizando meu relatório. um erro de comunicação e, talvez, confiança demais na tecnologia fizeram eu e meu orientador perdermos 3 dias. ainda assim, a versão final foi enviada com sucesso. completa. com anexos, agradecimentos, epígrafe (difícil, essa) e dedicatória. ele me dando o ok, eu imprimo, mando encadernar e dou por finalizado esse ano letivo.


» quer dizer, quase. ainda faltam as atividades de prática de ensino, disciplina que caminha junto com o estágio supervisionado. já pensou que bonito chorar sangue com a regência/relatório e reprovar por nota em prática?
mas quanto a isso é mais tranquilo. orientações presenciais e um prazo de entrega bem condizente à minha situação.


» eu estava falando do domingo. ele inteiro, sentada, olhando pro computador. moisa e luana cuidavam do mundo a minha volta, enquanto eu era absorvida por correções, formatações, erro no word, minis heart-attacks, conversão de pdf pra word, etc. só me levantei pra comer, ir ao banheiro, dar banho no autran e amamentar. agora, no meio da madrugada (isto está cada vez mais recorrente), todos dormem e eu me sinto incompleta. como se não tivesse feito o que deveria fazer. esse sentimento de tomar conta de tudo e todos, sozinha, sem auxílio, acaba comigo. eu não sou hércules, não sou super-heroína, não sou 100%. eu mereço e preciso de ajuda.
o grande problema é convencer meu coração disso.


» meu relato de parto está também no site da roda maternati.
que baita orgulho fazer parte dessa família, que só cresce, inclusive.
a renata - minha eterna doula hah - preferiu não cortar partes do meu relato-livro e pôs só o comecinho e um link pro meu blog. se você já leu, leia novamente num outro ~ambiente~ hah


» me tornei tia! no dia 9 de novembro nasceu minha primeira sobrinha. uma linda japinha chamada maria valentina. agora tudo faz sentido. toda a dedicação e amor das minhas irmãs pela luana e pelo autran fazem sentido. é uma coisa imensurável. é como se fosse seu, só que dos outros. a vontade de agarrar e nunca mais devolver... isso porque eu nem conheço a pequena pessoalmente :)


» o autran tem mostrado um interesse imenso por livros. a luana adora deitá-lo em sua cama e ler pra ele todos os livrinhos que já não lhe seduz mais. ele fica vidrado, concentrado, olhando fixamente praqueles desenhos coloridos. esses dias atrás, ela leu uns três seguidos e, no final, ele fechou os olhos e dormiu. há tempos não a via tão maravilhada.


» hoje percebi que a luana pode dar conta de cozinhar uma refeição. nesta noite, ela fez arroz e carne moída. contando com o fato dela saber fazer e temperar salada, poderia facilmente se responsabilizar pelo almoço. eu com 10 anos era uma marmota. minha filha tem facebook, sabe cozinhar e insiste que quer dar banho no irmão.


» preciso, urgentemente: ir ao dentista, lixar os pés, fazer as unhas, cortar os cabelos, tratar essa caspa patológica que apareceu depois do nascimento do autran, organizar minha papelaria pessoal, quitar minha dívida com a biblioteca, repensar minha alimentação. e sorrir mais.

14 de nov. de 2013

an ordinary afternoon.

autran estava dando uns gritos e deitei com ele na cama pra ver se ele dormia melhor.
o que aconteceu na hora seguinte, está aqui:
















10 de nov. de 2013

sobre despersonalização e prazos.

o ano ainda não acabou. ainda é cedo pra fazer um balanço geral - aquele clichê adorável dos blogs -, e eu não o farei. mas me sinto no direito de fazer alguns comentários.
esta é a quinta noite (consecutiva, houve outras aleatórias) que eu atravesso acordada por um motivo chamado: relatório de estágio.
o mesmo estágio que me arrancou lágrimas no primeiro semestre, que me fazia ir dormir às 2 da manhã e acordar às 6h, que me fazia correr pra cima e pra baixo com uma barriga de 8 meses de gravidez, que me fez passar tardes inteiras escaneando reportagens, montando atividades, planos de aula, enquanto minhas pernas inchavam cada vez mais, pedindo uma caminhadinha, um descanso, uma atenção extra e um copo de água a mais; enquanto minha pressão estava nas alturas pedindo calma, repouso e tranquilidade. eu não tinha nada disso. tinha era tensão, nervosismo, choro contido.

a regência acabou.
autran nasceu.

saí do mundo "universitária" pro mundo "puerpéria".
dias e noites de tensão, nervosismo, choro contido de um cansaço extremo de um bebê adorável que exigia muito mais do que eu pudesse imaginar.

autran cresceu.
minha licença acabou.

voltei pra universidade, ainda com um pé e meio no mundo "puerpéria" (minha teoria é que só saímos desse mundo depois do 6º mês). mas a universidade exige os dois pés no seu mundo. e um terceiro, se você puder oferecer.
os prazos indo igual enxurrada.
o relatório foi iniciado quando deveria estar sendo finalizado.

por isso não durmo.
por isso sinto constantes dores nas costas e nos olhos.
por isso pareço estar tão irritada, esquecida, lenta.

esta semana foi especialmente difícil pela ausência do moisa. uma viagem por causa do trabalho e 3 dias que pareceram três meses com nosso caçula me lembrando das prioridades da vida, com a nossa primogênita me lembrando que pré-adolescentes são aquele furacão emocional.

num desses dias, enquanto eu me afundava em fichamentos, xerox do ano passado, anotações do caderno e teoria que eu ainda não compreendi, ouvi os passarinhos cantando. eu estava há 3 dias vendo o sol nascer, mas só naquele dia ouvi os passarinhos cantando no alvorecer.
parei o que fazia pra olhar pela janela da lavanderia.

fui no quarto e vi o autran dormindo.
e me lembrei que ele é um bebê exigente sim, mas também é um bebê lindo, saudável, cativante e o maior motivo das minhas gargalhadas diárias. ele faz eu perder a hora pra tudo sim, mas tem um olhar capaz de me fazer perder a vida apenas contemplando. autran é o primeiro sorriso que eu vejo ao acordar, o sorriso de quem ainda não aprendeu o que é fingimento ou cinismo. o mais puro de todos.

fui no quarto e vi a luana dormindo.
é, ela é uma pré-adolescente. avoada, esquecida, preguiçosa. mas todo pré-adolescente é assim. seu diferencial é ser a mesma menina meiga, doce, carinhosa e educada de sempre. luana é uma menina virando moça a olho nu, é minha princesa, meu docinho, minha florzinha. é a menina que diz todos os dias o quanto me ama, que sou inteligente, que sou bonita. ainda é aquela admiração sincera que não quer nada em troca. ela fala porque quer que eu me sinta amada, do jeito que eu a faço sentir.

lembrei do moisa, longe de mim.
e lembrei que quando ele não está perto, eu desmorono muito fácil. aquela coisa todo do alicerce, sabe?

o que eu senti foi tão intenso, que até fiz um vídeo uns dias depois, pra nunca me esquecer.



e pela primeira vez, depois de meses, quase um ano praticamente, de ter enfiado um papel em um pote cheio de xixi no banheiro de casa, eu senti vontade de fumar.
uma vontade louca. genuína. quase sentia o gosto da fumaça passando pela garganta. eu sentindo ela seca. engolindo saliva. aquela leve tontura que sentimos no primeiro trago pela manhã. e o alivio.
naquela alvorada fresca, sozinha, eu senti vontade de fumar.
de soltar toda a tensão na forma de fumaça.


eu sei que isso tudo logo vai passar.
o autran me ensinou o real significado da palavra "entrega". quanto maior a entrega, melhor o resultado, maior o reconhecimento, mais rápida as rédeas de volta.
no momento não estou sendo eu, estou sendo "relatório de estágio".

e eu sei que o desfecho disso vai ser um choro compulsivo com sabor de vitória.
e aprovação, claro.


ps - não creio que meu orientador esteja lendo isso (tenho ele como amigo no facebook), mas se estiver, peço por gentileza, que agregue este texto à nota final (heh)

2 de nov. de 2013

24 hours in the life of me.

esta sexta, do dia 1º de novembro, eu anotei cada passo meu, sempre que possível.
todas as observações, assim como as fotos, foram feitos com o celular.



00h01
uns amigos vieram jantar em casa e acabaram de ir embora. estou deitada na minha cama fazendo o autran dormir. deito de lado, coloco o peito pra fora, ele deita de ladinho e mama sozinho. pus o ipad na minha frente e leio feeds enquanto o tempo passa. às vezes ele para de mamar, me olha e faz "auuur". nem sinal de sono.

00h56
autran solta o peito dormindo. sinal de sono pesado. luana veio me dar boa noite. amanhã (hoje, pros chatos) não tem aula. então ela pode dormir tarde e acordar tarde.

1h07
autran resmungou e ameaçou chorar. ainda estava deitada ao seu lado. antes que ele gritasse pro mundo sua dor, pus o peito na boca dele. a noite vai ser longa...

2h20
depois de duas tentativas, finalmente consegui por o autran na cama dele. neste momento estou deitada no tapete de EVA ao lado do colchão. ele está "plugado" (peito na boca, se tirar ele acorda). moisa dorme profundamente.

5h35
mamazinho da madruga. me dei conta que faleci de sono no tapete mesmo.

5h50
moisa manda eu voltar pra cama senão vou passar o dia travada de dor nas costas. levo o autran pra cama comigo, já que ele continua procurando o peito de 10 em 10 minutos. moisa joga um colchão ao lado da cama e dorme o resto da manhã lá.

7h25
autran resmunga, eu demoro pra atender e ele abre o berreiro.

12h51
depois de mais duas mamadas (sono demais pra registrar o horário), autran desperta de vez. o dia começou pra ele e pra mim.


14h33
levei a luana na casa da amiga pra brincar. levei o autran pra luana mostrar o irmão pras amigas e ele acabou dormindo no carro na volta. consegui tirar da cadeirinha e colocar no carrinho sem despertá-lo. aproveitei pra almoçar. foi o tempo que durou o cochilo. dei mamá e foi pro colo do moisa.

15h40
começo a (tentar) limpar a casa. sem sucesso. autran chora muito, exige colo, peito. está bem incomodado. imagino que seja o calor. com ele nos braços, ponho a roupa pra lavar.

16h16
autran ficou 5 minutos no carrinho, o tempo de erguer as coisas da sala. agora ele chora até no colo. tiro a roupa dele, está suando. tadinho. deito na cama pra ver se ele tira uma soneca mais "efetiva".


16h56
autran dormiu, finalmente. decido ficar do lado dele até que o sono dele fique pesado.

19h35
acabei de acordar, ainda estou na cama com o autran. despertei várias vezes com o autran procurando peito. deveria ter ido buscar a luana às 19hr, mas autran não larga o peito por nada. estou com dor de cabeça, fome e muita sede.

20h53
em casa, depois de ter ido buscar a luana e ido ao mercado. belisquei um pastel assado de presunto e queijo, bebi suco de pêssego e dei mamá pro autran. estamos nós três vendo simpson enquanto o moisa lava a louça.


21h49
montei duas pizzas no estilo 'tudo que tem na geladeira' e pus no forno. faxina começa agora: luana limpando cozinha, eu limpando sala e moisa cuidando do autran.

22h40
nessa correria, esqueci de dar banho no pequeno :x
estou preparando o ritual noturno: shantala, banho morninho e botar pra dormir.

00h25
autran dormiu profundamente. luana está no pc, moisa lendo revista. agora saio da cama e vou terminar a faxina. falta limpar lavanderia e passar roupa.


--
depois eu volto com observações post-scriptum.

24 de out. de 2013

but she's only 10 years old!

daqui menos de 4 horas (00h56min) luana estará partindo pra sua primeira viagem com a escola. vão a foz do iguaçu.
todos os 5º ano embarcarão em uns 3 ônibus, mais professores, coordenadores, diretor, etc pra conhecer a ~maravilha natural~ do nosso estado.

a luana está ansiosa pra essa viagem desde que o ano começou. na primeira reunião, a professora já explicou como seria a viagem, o porquê, o quanto é importante, como pagar em suaves prestações por 7 meses. todas as crianças vão, até a amiguinha da luana cuja a mãe não deixa ir brincar na casa dos outros.

e aquela coisa: coração de mãe na boca. quase escapulindo.
meu bebezão entrando num ônibus SOZINHA, indo pra foz do iguaçu SOZINHA, passeando pelo parque nacional SOZINHA, almoçando em restaurante SOZINHA, conhecendo itaipu, parque, marco das três fronteiras SOZINHA. é assim que eu vejo.
não importa se vai professor, psicólogo, coordenadora, diretor, secretária, cozinheira, faxineira, polícia militar e federal. minha filha estará sem mim e isso é perigosíssimo.
por mais que eu me esforce em "criar o filho pro mundo", ver ela batendo as asinhas é tão... desolador.

luana está uma típica pré-adolescente. passa o dia inteiro no computador, se deixar. vive com fome. vive com sono. vive entediada. vive com cara de "saco cheio". ainda demonstra algum entusiasmo quando a chamo pra fazer algo comigo, no entanto.
vejo alguns resquícios da luana-bebê: ainda tem aquele grude excepcional comigo, ainda quer bater papo enquanto eu estou no banheiro e/ou tomando banho, ainda quer sabe o que está passando no discovery kids, ainda me chama de "mami", ainda enrola o dedinho no cabelo pra dormir.
mas eles estão sumindo, pouco a pouco.

a cada dia, vejo a linda moça que ela está se tornando.
me animo em ver que ela continua doce e educada, me preocupo em ver que ela continua super tímida e introspectiva.
nunca me pensei sendo mãe de uma adolescente.
melhor eu começar a pensar.

e rápido.


última foto como filha única.

21 de out. de 2013

um dia falarei melhor sobre a alta demanda.

essa é minha última semana de licença maternidade.
já entrei em depressão só de imaginar o caos que se instalará na minha casa até o fim do ano letivo.
tem sido bem difícil assimilar tudo. eu não sou uma pessoa de fazer várias coisas ao mesmo tempo, eu não sei lidar com a pressão - muito menos a que eu coloco em mim mesma.
não estou nada otimista com o retorno à sala de aula. fico aflita pensando que meu único turno de "folga" (quando o moisa estava aqui pra me ajudar) eu estarei mergulhada em outras obrigações. obrigações estas que trarei pra casa, ocupando os resquícios de brechas que minha rotina de full time mom domina. e eu digo resquícios MESMO. o tempinho que sobra pra comer e fazer xixi sem um bebê clamando minha presença. sim, porque há os dias em que almoço em três garfadas enquanto ele chora do meu lado.

quem conheceu autran se encantou com a calma e simpatia dele.
ele realmente é um bebê ótimo, risonho, comunicativo. não estranha colo, nem pessoas, nem ambientes. sua vida social acontece desde que ele tem 7 dias de vida. jamais poderia classificá-lo como um "bebê difícil".
mas ele é.
desconfio seriamente que autran é o que chamam de bebê high need. não é doença, não tem diagnóstico clínico. é um traço de sua personalidade e a gente descobre isso apenas observando. tem cura? não. o que fazer então? amar, como se faz com qualquer outro filho.

por isso andei pesquisando sobre como é viver com um bebê enérgico, exigente e drenador.
eles precisam ser atendidos, compreendidos e servidos de forma devida, como merecem e como pedem. não é culpa deles. nem nossa. seus sistemas, seus corpos pedem mais. e temos que dar mais. não atendê-los seria como dar nada àqueles que pedem pouco.
a única coisa que diferencia o autran de outros bebês high need que vi em vários depoimentos é o padrão de sono noturno. autran dorme bem à noite. desde que completou 2 meses, raramente acorda de madrugada. ele desmaia perto da meia-noite e só acorda por volta da 7 ou 8 da manhã. no entanto, ele só dorme sendo embalado, enquanto mama.
e TODAS as sonecas efetivas (que duram mais que 10 minutos) durante o dia são no colo.

diante desse panorama, não tem como manter a calma e pensar que tudo será tranquilo.
meu único foco agora é manter meu bebê alimentado, limpo e não-chorando. só com isso eu já fico esgotada quando ele dorme pra valer (o que me impossibilita fazer algo de madrugada que não seja dormir). há dias em que me sinto fraca. eu, desse tamanho todo, comendo igual um pedreiro, me sinto fraca.

nesse ritmo, não tive tempo para sentar e escrever textos que já estão prontos na minha cabeça sobre umas reportagens duvidosas de cama compartilhada, sobre o quarto do autran, sobre as atividades montessorianas que iniciei, sobre uma calça que estampei usando a técnica de stencil, sobre suas novas descobertas, sobre as alegrias, sobre o desespero dos saltos e picos de crescimento.
não há tempo, não há disposição.

imagine quando eu tiver outras obrigações de verdade.
nada animador.

4 de out. de 2013

autran's happy place.

algumas semanas depois que eu fiquei grávida, eu comprei um sling em uma loja virtual.
comprei um vermelho, cor que eu adoro, com um bolso listrado. charmosíssimo. alegre. não importava se era menino ou menina, eu carregaria meu caçulinha num sling vermelho.

muito manual de instruções, vídeos, estudo, testes com bonecas e saco de arroz. com mais ou menos 20 dias de vida, o autran e eu testamos o sling.
e foi um desastre.

não sei o que fazia de errado. as argolas desciam, o tecido embolava, o autran chorava loucamente.
todo dia eu tentava um pouquinho, até que em uma tentativa, ele ficou quietinho imediatamente após eu fazer os ajustes. agi normalmente e fui estender roupa. ele acabou dormindo. acordou, mamou no sling mesmo e dormiu de novo.
depois desse dia, ele passou a aceitar o sling muito bem.

sempre esperei muito o momento de sair na rua com ele penduradinho.
saí uma vez, mas era domingo, a rua deserta. e ele dormiu em menos de um quarteirão de caminhada.
em nenhuma outra saída cheguei a precisar por o sling.

de uns tempos pra cá, percebi que ele já não ficava tão tranquilo na clássica posição para recém-nascido. ele está com as perninhas cada vez mais fortes, as estica e dificulta muito o ajuste, a posição e acaba deixando tudo bem cagado.

bom, toda essa ladainha pra contar que hoje testei uma nova posição. sentadinho, de frente pro mundo. apesar dela ser indicada só pra depois do 3º mês, por aqui deu muito certo, pois o autran sustenta bem a cabeça desde o primeiro mês (SÉRIO).
eu, particularmente, adorei. é mais fácil de por, mais confortável, mais livre. o bebê vê o mundo, fica numa posição muito parecida com a que ficava dentro do útero - por mais que pareça horrível, eles curtem quando imitamos o ambiente uterino.
autran também aprovou. não chorou, nem se esticou, nem ficou resmungando. dormiu após algumas andadas pela casa.

aproveitei a empolgação e fui com a família pro supermercado.
era minha (nossa) primeira grande aparição em público naquele pano.
sempre li as meninas contando histórias sobre as reações das pessoas ao verem eles apertadinhos, quietinhos, pendurados naquela faixa que, pra quem nunca viu, parece perigosíssima.
era a minha vez de encarar aquilo. e olha... não é agradável. há pessoas que sequer disfarçam. olham fixamente, param do seu lado. há os ousados que comentam, que apontam.
uma senhora achou lindo, mas demonstrou verbalmente sua angústia daquilo ser desconfortável. minha resposta foi clássica: "se fosse, ele não tava quietinho assim".

já havia levado ele no colo naquele mesmo supermercado. não ficou 3 minutos na cadeirinha do carrinho de compras. no colo, ficou irritado e chorou. uma moça me sugeriu deitá-lo de bruço nos braços, pois "alivia as cólicas" (incrível que como pros outros todo choro do bebê é cólica... mas não, não é). em menos de 10 minutos, tive que ir pro carro dar peito para acalmá-lo. moisa e luana que terminaram as compras.
dessa vez, com o sling, nenhum choro, nenhum resmungo. bebê silencioso e atento no saquinho de carregar bebês.

ou como eu costumo dizer, o melhor lugar do mundo.

só falta as pessoas se acostumarem com isso.


no primeiro teste, ainda meio mal colocado.
e (eu) com roupa (cabelo, cara, etc) de ficar em casa

27 de set. de 2013

nossas melodias.

dias atrás recebi a visita de uma colega de trabalho do moisa.
autran estava em pleno salto de desenvolvimento. juntando um dia de soneca ruim e horário crítico. enfim, ele não tava aquele bebê lindo e encantador que costuma ser.
entre choros e resmungos, a visita perguntou a ele: "vamos cantar? que música sua mãe anda te ensinando?".

eu sorri. e só.
não ia contar a verdade.

me sinto meio ridícula cantando música de criança.
eu nem sei música de criança. nunca ensinei a luana a cantar "meu pintinho amarelinho". no entanto, achei a coisa mais linda do mundo quando ela voltou da escola um dia cantando a música da boneca de lata (eu não conhecia) naquele bebenês de 4 anos, cheio de errinhos de dicção (por exemplo, ao invés de falar "desamassa", ela falava "samassa" ÓUN).
ela tinha seus cds de músicas infantis, ouvia, dançava, etc.
mas eu não ensinei nada quando bebê. tampouco cantei pra ela na gravidez. sério, isso me deixa constrangida.

desde que decidi mudar minha forma de maternagem com o autran, eu vi o quanto é importante pro bebê ouvir a voz da mãe. lhe dá segurança, estímulo, acalma.
resolvi fazer um esforço.

durante o banho, eu canto sempre a mesma musiquinha pra ele. é relaxante até pra mim.
debaixo do chuveiro quentinho, pele com pele, ele encosta a cabecinha no meu peito e eu deixo a água cair nas suas costas e fico cantarolando. cansei de o ver dormir assim.
o lance é que é uma música de adulto. em inglês.
mas tem uma melodia linda:



quando estou com ele no sling, pela casa, e ele ainda se mantém inquieto, eu começo a cantar também sempre a mesma música. diferente da do banho. porque aquela é música de banho.
a música de sling tambem é de adulto. em inglês.
e também tem uma melodia de matar:



outro dia, o moisa estava fazendo ele dormir e o ouvi cantarolando uma terceira música, que pode muito bem virar a música de dormir.
de adulto.
em inglês.
melodia... *suspiro*



ou seja, não seria fácil explicar que estou ensinando uma música extremamente depressiva pro meu filho enquanto toma banho, outra sobre um crime passional enquanto o embalo no sling e, antes de dormir, ouve o pai cantando uma música que, inicialmente foi feita sobre abuso de drogas, mas que pode muito bem ser vista como a angústia de um homem em sua velhice.

não é qualquer um que entenderia.

25 de set. de 2013

maternidade alternativa não é moda.

em tempos de tecnocratização da vida, é preciso que a gente recorra às essências. pensar no fundamental. no dia em que beijar, abraçar, aquecer as mãos como forma de transmitir amor ou aliviar a dor forem moda, estaremos de fato vivendo o fim de nossa condição humana.


(clique na imagem para ler)


ps - só pra dizer que a ilustração das mães bicho-grilo não me representa. mas o texto sim.

19 de set. de 2013

sobrevivendo a 8º semana.

gostaria de ser aquelas mães dedicadas e fazer update de todos os marcos do filho e ir pondo no blog. mas eu sou avoada, sou cabeça de borboleta e sequer sei em que dia da semana estamos.
não é a toa que pus aquele adesivinho cafona da lilypie no meu blog. só assim eu saberei exatamente a idade do meu filho (a luana está mais fácil, muda uma vez por ano) sem ter que correr pro calendário.
ei, me dê créditos, estou sendo sincera aqui.

enfim, o autran já sorri quando vê um rosto humano.
tudo bem que às vezes ele sorri pro lustre, pro telefone, pra janela, mas quando vê um rosto familiar (eu, luana, moisa) ele sorri, imediatamente. acho que já posso dizer que nos reconhece.
maior gostosinho ver ele despertar, eu falar "bom dia, bebezão" e ele abrir um sorrisão. por segundos, chego a esquecer o cansaço da noite mal dormida.

ah, as noites mal dormidas...
há uns dias atrás tudo parecia estar entrando nos eixos. ele ia dormir sempre no mesmo horário, sem chororô, acordava duas vezes (ou até apenas uma) pra mamar, durante o dia era tranquilo, calmo, tolerava algum tempo deitado ou no carrinho, adorava contemplar seu móbile caseiro por lindos 15 minutos. até dava tempo de eu dar uma geral na casa, ler alguns textos ou descansar.
mas todo o conto de fadas desmorona quando chega o maldito salto de desenvolvimento.

veja, bebê crescem incrivelmente rápido em apenas um ano. tanto fisicamente quanto mentalmente. tem todo um texto lindo que eu poderia falar aqui, explicar tudo bem picadinho, dar referências e etc, mas o principal é: não é nada fácil pra eles.
salto de desenvolvimento é auto-explicativo. logo o bebê vai alcançar uma habilidade nova, como engatinhar, andar, bater palminha, se comunicar.
o autran ainda é novinho demais pra tudo isso, sua habilidade será sorrir mais, melhorar a visão, paladar e olfato, perceber que os pés e as mãos são dele e vai querer controlá-los. também vai experimentar a própria voz e vamos nos deliciar com os gritinhos e "agu", "bubu" e "gaga" que virão. vai ter consciência, vai preferir determinados sons e ambientes, vai começar a mostrar sua personalidade.

tudo isso na cabecinha de um bebê de 2 meses de vida extra-uterina.
é demais pra ele.
então ele fica confuso, angustiado com tanta mudança. e o que você faz quando fica confuso e angustiado? isso mesmo, chora. quer colo, quer afago, quer coisas que te tragam segurança.
e é isso que ele quer agora. só colo, peito, calor e cheiro de mãe.

por isso, os últimos dias tem sido a base de mamazinho de hora em hora, muito choro, muito resmungo, bebê bravo, cochilos curtos, muito colo, sono irregular.

agradeço a internet e todas as informações a respeito dessas fases difíceis. em outros tempos, eu estaria o enchendo de remédio pra cólica, desesperada com tantos extremos.
agora sei que a única coisa que posso fazer é ter paciência e repetir o mantra "VAI PASSAR".

sei que logo terei meu bebê querido de volta.

o porquê da mãe de um bebê (quase) nunca chegar na hora.

pra sair com um bebê, por mais breve e perto que vá ser a saída, pede pelo menos uma bolsinha com os itens básicos: fraldas extras, uma troca de roupa, pano de boca, algodão e água (no meu caso, não uso lenço umedecido). se frio, levo uma mantinha, se for demorar mais que 5 minutos, levo o sling.
pra não ficar toda atrapalhada, jogo minha carteira e celular na bolsa do bebê.

bolsa pronta, agora aprontar bebê.
afinal ele tem que estar limpinho, cheirosinho, lindinho nhóóóó quando vai sair, né. bebê azedinho só dentro de casa, por favor. dependendo do clima, não dou banho, mas passo pano com água morna, troco de roupa, penteio o "cabelo", passo perfuminho (só na roupa).
bolsa pronta, bebê pronto, agora é minha vez.
saio correndo arrancando calça do varal, pego blusa na roupa sem passar e cardigan na cabideira. levo mais tempo calçando o tênis do que colocando a roupa. escovo os dentes, arrumo o cabelo (leia-se solta e amarra de novo) e passo body splash, porque não tou usando perfume (por enquanto).

prendo bebê no bebê-conforto, coloco no carro, prendo o cinto de segurança.

agora podemos sair de casa.

(sinta-se sortuda se você não ser presenteada com aquelas cagadas que sujam até o suvaco do bebê assim que abre a porta da frente)

6 de set. de 2013

uma quarentena de autran.


nhac nhac nhac

parece que eu havia esquecido como era ter um bebê em casa. em algum momento, nesses 10 anos, minha mente bloqueou a parte em que eu deixava de ser eu e passava a ser dominada por uma coisinha que nem sabe que suas mãos são parte do seu corpo.

por isso, esse post será em tópicos, porque eu não tenho mais o luxo de me sentar na frente do pc e passar 2 horas escrevendo, relendo e editando um post de blog.

» há vários meses, moisa me deu um ipad de presente de dia das mães. segundo ele, seria muito útil nos primeiros meses com o autran, pra eu poder ler, ver seriados e navegar na internet enquanto cuido do bebê. e olha... MELHOR PRESENTE EVER! moisa e seu talento premonitório.

» a luana tem sido maravilhosa. apesar de estar naquela fase adolê, é bem compreensiva e prestativa. e o engraçado é que, antes, meu medo era que ela sentisse ciúmes da gente (eu e moisa) com o bebê. fato é que ela tem ciúmes sim, mas do bebê. o irmãozinho é dela, e ninguém tem que ficar de mimimi com ele não.

» o moisa tem sindo impecável. nem tenho palavras pra descrever o quanto ele tem sido minha parte racional nisso tudo. tem me mantido sã.

» autran adora ver a luana dançar, descobrimos ontem.

» amamentação exclusiva até o 6 meses, é o que faremos aqui. pra mim é tipo um sonho realizado, visto que não consegui amamentar a luana por muito tempo (longa história). foi doloroso no início, ainda tenho alguns percalços, mas a livre demanda (sem horários fixos, o bebê mama quando quiser) está indo muito bem. e, lá no fundo, sinto uma satisfaçãozinha em ser a única capaz de acalmar o autran em certos momentos.

» com pouco mais de 15 dias, autran já tomava banho no chuveiro. isso mesmo, chega de encher banheira, da banho correndo pro bebê não passar frio, esvazia banheira, etc, etc. ele sempre chorava muito e minhas costas andavam em frangalhos. um dia eu tirei a roupa e entrei com ele debaixo do chuveiro e foi o primeiro banho em que ele não chorou. esteve a ponto de dormir (chegou a dormir em alguns), de tão relaxado que ficou. daí pra frente tem sido assim. ele até faz carinha feliz quando entra no box comigo.

» desde que o autran nasceu eu saí na rua 7 vezes: pra um grupo de mães, pro pediatra, pro obstetra, pra viajar, pra ir ao mercado, prum churrasco e hoje, pra ir à padaria. ainda não enlouqueci.

» ainda está para ser descrito o sentimento que nos invade quando somos capazes de arrumar o cabelo e vestir uma roupa que não seja pijama enquanto estamos no puerpério.

» com o autran eu passei por um baby blues complicadinho. e com ele eu aprendi que: não há problema em pedir ajuda.

» autran está começando a gostar do sling, nossa primeira experiência ao ar livre foi no churrasco e ele dormiu umas lindas duas horas pendurado. dentro de casa ele parece não curtir muito.

» tenho feito testes com fraldas de pano e até agora tem sido meio desastrosas. mas é porque eu devo ajustar errado. vou continuar tentando, ele fica lindinho demais nas fraldas de pano modernas.

» no início, eu me sentia exausta e sentia que não ia aguentar a falta de estrutura, sono e referência que eram meus dias. hoje alguma coisa parece estar estabelecida, embora eu ainda não saiba bem o que. tenho a impressão que meu corpo está temporariamente habituado ao sono cortado e leve e não me sinto mais tão cansada, ainda que tenha que amamentar 3 ou 4 vezes pela noite.

» adoro não ter mais os pés inchados, adoro passar uma noite inteira sem ir ao banheiro, adoro não ter dor nas costas e pernas. porém, sinto saudades da minha barriga de grávida. acredito que ter usado as mesmas roupas de sempre durante a gravidez faz minha síndrome do útero vazio vir com toda força.

» durante os primeiros meses, estou fazendo cama compartilhada com o autran. apesar das críticas, acredito ser melhor pra mim e pra ele, pois eu preciso de descanso e ele precisa do meu calor e contato. no entanto sinto falta dos pés do moisa pra esquentar os meus.

» fotografá-lo: é o que eu poderia fazer o dia inteiro.




i just called to say thank you.

uau.
antes de tudo, queria dizer: uau!

obrigada, gente.
pelas visitas, comentários, e-mails e mensagens. não imaginei que meu relato teria tais proporções. recebi muito carinho, até de gente que não conheço, por conta da minha história. sinto um orgulho danado de ter sido capaz de mudá-la :)

deixei de relatar várias coisas pequenas que apareciam naquele esquema de flashes. tipo uma conversa com a pediatra em meio a contrações que eu mal conseguia respirar. esse é um detalhe que dói um pouco em mim.
havia feito um plano de parto e nele tinha posto todas as minhas vontades no pré, durante, pós parto e cuidados com o bebê. como não escolhi um pediatra a dedo (se achar um obstetra disposto a ficar disponível a qualquer hora para um parto já é missão impossível, imagina um pediatra...), escrevi detalhadamente o que não gostaria que fosse feito com meu bebê. mas a plantonista chegou num momento complicado, não lhe entreguei o plano de parto para ser discutido e combinado, sequer falei das minhas vontades. a única coisa que lhe pedi foi contato imediato comigo após o nascimento, só depois iria ao berçário. isso era importante demais pra mim.
eu nunca havia parado pra pensar em como os recém-nascidos são tratados, até ver esse video (que é o parto normal mais cirúrgico que eu já vi na vida).

a brutalidade é surreal, pra quem acabou de chegar ao mundo. pra quem nunca sequer teve a pele tocada. pra quem nunca respirou oxigênio. imagina o desespero, frio, choque e medo que ele sente?

só de pensar em como o autran foi tratado depois que o levaram, me dói. dói mais ainda pensar em como a luana foi tratada quando ela nasceu...
pelo menos eu sei que o cordão do autran só foi cortado quando já tava parando de pulsar.
um choque a menos :)

e paro por aqui, senão serão mais 6 posts só pra falar desse assunto.

25 de ago. de 2013

no quarto 17 - parte V.

ainda no esquema de flahes, eu via gente entrando no quarto.
até então estávamos só eu, a renata, o médico e uma enfermeira (acho?).

o bebê veio pro meu colo.
eu o sentia quentinho, desajeitado, com um pouco de sangue e vérnix. fazia um barulhinho lindo, ahuuu ahuuu ahuuu ahuuu, como se estivesse reclamando.
eu não lembro o que disse a ele, o que eu fiz. só lembro de senti-lo.
jamais esquecerei a sensação.

senti a placenta ser expelida.
acabou.

tive uma laceração, permiti sutura.
levaram o bebê pro berçário e foi aí que meu corpo se entregou.


senti muita fraqueza, tremia incontrolavelmente, mal conseguia abrir os olhos.
me vestiram, me colocaram numa maca e me levaram pra um apartamento.
(lembra da história de esperar vagar um apartamento, etc?)

era um cansaço extremo.
pudera, tamanho o esforço físico das últimas horas.
quando fiquei sozinha, chorei.
solucei novamente, mas agora de felicidade. minha voz não saía, mas eu pensava: "consegui... consegui..."

***

autran nasceu dia 26 de julho de 2013, às 13h50.
com 3,5kg e 50cm.
após 40 semanas e 5 dias vivendo dentro de mim.

autran nasceu de parto natural hospitalar.
sem anestesia.
sem hormônio sintético.
sem corte (episiotomia).
sem nada que não fosse natural, produzido pelo meu corpo.

autran nasceu depois de uma cesariana.
também conhecido como VBAC (vaginal birth after c-section), derrubando o mito de que não se pode ter um parto normal depois de uma cesárea.

autran nasceu depois de 31 horas de bolsa rota.
num trabalho de parto que durou 16 horas.

autran nasceu com respeito ao seu tempo, ao meu tempo.

e nada disso seria possível se não fossem pessoas.

pessoas como a francy borges, a primeira a quem pedi ajuda. foi a francy que me alertou sobre a situação obtétrica de maringá, que me pôs imediatamente em grupos de discussão no facebook, me abriu portas, me tirou definitivamente da matrix. foi a francy a "culpada" de tudo. se não fosse ela, não sei se teria coletado o tanto de infomação que coletei na gravidez.

pessoas como a renata frossard, a querida doula e, agora, amiga. não somente pelo trabalho que fez comigo, mas que faz com outras mães, tornando possível o sonho do parto natural. tornando esse momento tão delicado numa experiência única, feliz, marcante e intensa. também, pela iniciativa incrível do maternati, mostrando que tanto o parto ativo como a maternidade/paternidade ativa são perfeitamente possíveis e incentivadas.

pessoas como o dr rudey, pela coragem e atitude de "ir contra a maré", sendo a luzinha no fim do túnel pra quem não deseja colaborar com o trágico cenário da obstetricia nacional. pelo trabalho sério, respaldado por evidências científicas, pelo respeito à gestante, pela liberdade e capacidade.

pessoas como as que recheiam os grupos "parto natural", "cesária? não, obrigada" e "crias nossas" (azíndias, as naturebas, as xiitas, como queira chamá-las). mulheres que ocupam seu (raro) tempo livre para amparar, ajudar, alertar, discutir e dividir alegrias e agruras. sem ganhar nada (um insulto, às vezes... hahah), sem cobrar nada. pelo simples prazer de passar pra frente o bichinho do ativismo.

e, finalmente, pessoas como o moisa. que embarcam no sonho da esposa, que se abre, assume, respeita, debate, aprende junto. que apoia, confia, te da cobertura e segurança. porque um dos pilares que me manteve em pé durante todo o processo foi a certeza que a mão dele estava todo o momento ali, pra me segurar.
o parto é sim fisiológico, mas boa parte dele acontece entre as orelhas.
outra parte só acontece se houver paz. exterior e interior.
sorte a minha ter alguém como ele pra me proporcionar isso.

:)